“Quando adotamos uma perspectiva ecológica e usamos os
conceitos apropriados para analisar processos econômicos, torna-se evidente que
nossa economia, nossas instituições sociais e nosso ambiente natural estão
seriamente desequilibrados. Nossa obsessão com o crescimento e a expansão
levou-nos a maximizar um número excessivo de varáveis por períodos prolongados –
PIB, lucros, o tamanho das cidades e das instituições sociais, etc, e o
resultado foi uma perda geral de flexibilidade. Tal como em organismos
individuais, esse desequilíbrio e a ausência de flexibilidade podem ser
descritos em termos de estresse, e os vários aspectos de nossa crise podem ser
considerados os múltiplos sintomas desse estresse social e ecológico. Para
restabelecer um equilíbrio saudável, teremos de repor aquelas variáveis que
foram sobrecarregadas em níveis controláveis. Isso incluirá, entre muitas
outras medidas, a descentralização de populações e atividades industriais, o
desmantelamento das companhias gigantescas e de outras instituições sociais, a
redistribuição de riqueza e a criação de tecnologias flexíveis e preservadoras
de recursos. Como em todo sistema auto-organizador,
a recuperação do equilíbrio e da flexibilidade pode ser efetivamente conseguida
através da autotranscendência – avançando-se de um estado de instabilidade ou
crise para novas formas de organização...
O restabelecimento do equilíbrio e da flexibilidade em
nossas economias, tecnologias e instituições sociais só será possível se for
acompanhado por uma profunda mudança de valores. Contrariamente às crenças
convencionais, os sistemas de valores e a ética não são periféricos em relação
á ciência e à tecnologia, mas constituem sua própria base e força propulsora.
Por conseguinte, a mudança para um sistema social e econômico equilibrado
exigirá uma correspondente mudança de valores – de auto-afirmação e da
competição para cooperação e a justiça social, da expansão para a conservação,
da aquisição material para o crescimento interior. Aqueles que começaram a
realizar essa mudança descobriram que ela não é restritiva, mas pelo contrário,
libertadora e enriquecedora.”
Do livro O ponto de mutação do físico Fritjof Capra.
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