quarta-feira, 1 de abril de 2015

O que é realmente um produto sustentável do ponto de vista ambiental?

Alguns produtos podem ser considerados sustentáveis por gerar menos perdas, por serem recicláveis ou mais duráveis, outros porque contêm menos substâncias prejudiciais ou tóxicas ou porque o processo de sua geração consome menos energia. Para decidir qual produto é preferível em termos ambientais, os cientistas acham necessário que sempre se faça uma comparação dos impactos ambientais dos produtos por meio da análise de seus ciclos de vida.
Na verdade, produto sustentável é aquele que apresenta o melhor desempenho ambiental ao longo de seu ciclo de vida, com função, qualidade e nível de satisfação igual ou melhor, se comparado com um produto-padrão.
Na prática, nem sempre é fácil adotar tais critérios ao se adquirir um produto, e uma das barreiras mais comuns para a verificação e confirmação de um produto sustentável é a falta de informação e de experiência do consumidor para fazer a comparação das características de um produto específico. Em alguns casos, o consumidor é sobrecarregado com informações dos fabricantes, que anunciam ser o seu produto “o melhor para o meio ambiente”. Mas como avaliar qual produto realmente é “amigo do meio ambiente”?
Há uma série de instrumentos práticos para ajudar a responder essas questões. Vamos usar a abordagem do programa Procura +, desenvolvida pelo Iclei, na descrição desses instrumentos.

Ciclo de vida: abordagem e análise

A maioria dos instrumentos existentes para fazer a opção por produtos mais sustentáveis sob o ponto de vista ambiental está baseada no conceito de ciclo de
vida, um conceito holístico para avaliar a ação ambiental de um produto. A ação do ciclo de vida leva em conta o impacto ambiental do produto em todos os seus estágios, desde o nascimento, ou berço (extração do material/matéria-prima), até o túmulo (disposição final), com o propósito de minimizar ao máximo o dano ambiental.
A avaliação do ciclo de vida (life-cycle assessment — LCA) é uma ferramenta desenvolvida para implementar essa ação. De acordo com a definição da Comissão Européia, LCA é “um método para avaliar os aspectos ambientais e impactos potenciais associados a um produto, compilando um inventário com recepções e emissões relevantes de um sistema definido, que avalia estes dados e interpreta os resultados”. Esse método possibilita a identificação dos impactos ambientais mais importantes de um produto, quantifica os benefícios ambientais que podem ser alcançados por meio de melhorias em seu desenho e compara sua compatibilidade ambiental com produtos ou processos concorrentes.
Há algumas questões relacionadas à credibilidade dos resultados da LCA.
Todas as LCAs envolvem algum tipo de juízo de valor, como ao se decidir qual entre dois impactos adversos é o mais significativo, uma demanda maior de energia ou mais uso de água, por exemplo. Por essa razão, a credibilidade das LCAs está sendo aprimorada por meio da aplicação de padrões internacionais, tais como uma metodologia padronizada de LCA, desenvolvida pela Sociedade de Toxicologia e Química Ambiental (Society for Environmental Toxicology and Chemistry — Setac) e registrada nas séries da ISO (International Standard Organization).
Tanto organizações privadas quanto os órgãos públicos usam a LCA como ferramenta de apoio para tomada de decisões. A LCA é aplicada, por exemplo, no desenvolvimento de políticas públicas de ecorrotulagem, aquisições governamentais, regulamentação de análises ambientais e políticas de guias tecnológicos. Está claro que conduzir uma LCA requer um investimento considerável de tempo e de recursos. Entretanto, o trabalho da LCA é a base científica para a maioria dos instrumentos apropriados à disposição dos consumidores, incluindo o critério Procura+ (desenvolvido pelo Iclei) e, como tal, é importante conhecer seu conceito.

Ecorrotulagem ou selos verdes

Ecorrotulagem é um sistema voluntário de obtenção de certificação de conformidade ambiental para produtos. O selo é outorgado a produtos e serviços que estão em conformidade com os critérios de ecorrotulagem (um conjunto de requisitos técnicos qualitativos e quantitativos), no que se refere à qualidade do material usado, ou ao processo de produção, por exemplo ecoetiquetas ou selos verdes permitem aos consumidores tomar decisões informadas sobre o efeito do produto ou serviço e a manifestar seu desejo por produtos mais sustentáveis sob o ponto de vista ambiental. Portanto, os selos verdes ajudam a direcionar demandas de mercado e a promover a preferência por produtos e serviços sustentáveis. Segundo a definição da ISO (International Standard Organization), o objetivo da ecorrotulagem é, “por meio da comunicação confiável e precisa sobre aspectos ambientais, encorajar a demanda e o fornecimento de produtos e serviços que causem menos estresse ao meio ambiente,
estimulando o mercado dirigido para a evolução ambiental”.

Há dezenas de fórmulas mundiais de ecorrotulagem voluntária, dirigidas por governos, entidades privadas e organizações não-governamentais. A maioria dessas iniciativas adota critérios multidimensionais baseados nas LCAs, mas alguns selos verdes estão focados em um dos impactos ambientais (por exemplo, o selo EnergyStar, um esquema de ecorrotulagem para a eficiência energética).
É evidente que a capacidade de julgar a credibilidade dos selos verdes também é muito importante. Em alguns casos, os próprios produtores podem anunciar-se como sustentáveis, talvez para alcançar uma injustificada vantagem sobre a concorrência. Porém, para fazer a distinção entre um método aceitável de  ecorrotulagem  e  declar  ações   equivocadas ,   a   International   Standards Organization formulou um conjunto de critérios para determinar um método legítimo de ecorrotulagem,  a  ISO 14024. Essa norma prevê os seguintes critérios: confiabilidade da informação (por exemplo, procedimentos adequados no local e condições de monitoramento); transparência dos procedimentos administrativos; e a existência de um processo formal de consulta aos atores relevantes. De acordo com a classificação da ISO, há três tipos de método de
ecorrotulagem. 

Selos tipo I :

A ISO define-os como “voluntários”. São baseados numa multiplicidade de critérios e
em programas profissionais que outorgam rótulos (ou selos) que abrangem produtos de uma determinada categoria, considerando o ciclo de vida. O critério é estabelecido por um corpo independente de profissionais e monitorado por um processo de certificação e auditoria. A transparência e credibilidade desses selos são asseguradas por certificação terceirizada. Os critérios para o produto são desenvolvidos e preservados.

Selos tipo II :

Informativos ambientais autodeclarados (ou autodeclarações). São declarações ambientais sobre produtos, feitas pelos próprios fabricantes, importadores ou distribuidores. Não são verificados por órgãos independentes e não usam critérios de referência geralmente aceitos ou predeterminados, portanto são discutíveis. São considerados os menos informativos dos três tipos de selos.

Selos tipo III:

Informação quantificada do produto (quantified product information — QPI). São
selos emitidos com base em verificação independente, com uso de índices preestabelecidos. A QPI lista um menu de impactos ambientais de um produto ao longo de seu ciclo de vida, de acordo com categorias de informações estabelecidas pelo setor industrial ou de entidades independentes. Ao invés de julgar produtos, as QPIs fornecem uma pontuação para cada produto, baseada no método LCA em vigor, deixando o julgamento final a critério do consumidor. Esta pontuação ambiental é compilada por uma agência de certificação terceirizada e baseia-se em um número de indicadores de performance (EPI), por exemplo, uso de energia, emissão de gases poluentes, de água etc. Isto  permite ao consumidor comparar as pontuações de diferentes produtos e comprar o de “melhor nota” (melhor pontuação).

Fique atento !!!


Fonte: Guia de compras públicas sustentáveis.

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