Fonte Idéia Sustentável :: Junho - Agosto de 2009
A Fênix, pássaro que após ser consumido pelas chamas renasce das suas cinzas, é o símbolo utilizado para caracterizar uma nova economia baseada na inovação sustentável. Essa é a aposta do recente estudo The Phoenix Economy: 50 Pioneers in Social Innovation (A economia Fênix: 50 pioneiros em inovação social), realizado pela Volans, think-thank na área de inovação para sustentabilidade.
“Buscávamos uma metáfora que trouxesse a noção de novas ideias, tecnologias e modelos de negócios emergindo de uma grande crise econômica, que agora está começando a acontecer globalmente”, avalia John Elkington, fundador e diretor da Volans e co-fundador e diretor Sustainability.
O estudo busca identificar tendências e exemplos de como os empreendedores de diversas áreas estão lidando com a oscilação econômica atual e destaca os 50 pioneiros que têm direcionado o desenvolvimento para uma economia mais sustentável.
Para Elkington, o presente desaquecimento da economia já está causando profunda desordem no fluxo dos mercados mundiais, fato que representa muito mais do que uma simples recessão, mas parte de uma fundamental reorganização dos modelos de negócios, mercados e, em última instância, do capitalismo.
“Observando a partir da perspectiva de 2060 ou 2070, acredito que as próximas duas décadas serão vistas em retrospecto por terem representado um período de evolução explosiva em tecnologia, modelos de negócios e mercado ligados ao desenvolvimento sustentável”, ressalta.
Escalada à inovação
Como proposta para superar a crise e iniciar a transição para uma economia sustentável, o estudo aponta um modelo denominado ‘Pathways to Scale’, cujo significado remete a proposta de dar escala às inovações sustentáveis. Para alcançar esse objetivo são sugeridos cinco passos. O primeiro estágio consiste no reconhecimento de uma oportunidade para gerar novas soluções. Em uma segunda etapa, a ideia inicial é testada com protótipos e experimentação enquanto na terceira, modelos de negócios e empreendimentos são criados. No quarto estágio, é necessário avaliar o foco de mudança para a evolução de sistemas que devem envolver um número crescente de setores - público, privado e social além de parcerias – que têm efeito multiplicador.
E finalmente, no quinto e último estágio, acontece a mudança de sistema - exemplificada pela perspectiva de adaptação de mercado, social e mentalidades a partir da implementação de novos modelos e tecnologias para as sociedades.
Para Sérgio Besserman Vianna, economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), as empresas que têm no planejamento estratégico uma noção clara de que a agenda do século XXI é a sustentabilidade estão numa posição competitiva favorável em relação àqueles que não visualizam esse cenário. Porém, os impactos negativos provenientes da crise global podem comprometer o investimento em tecnologias sustentáveis. “No exato momento da crise, há dois impactos desfavoráveis. O primeiro é a escassez de crédito geral e o segundo é a baixa do preço do petróleo, que obriga a quem investe em fontes renováveis refazer suas contas”, avalia.
Governança para evolução
O estudo Economia Fênix traz as expectativas de empreendedores globais em relação a todos os setores da sociedade. Ao invés de sinalizar quais atores têm mais condições de superar a crise e conduzir a inovação sustável, o estudo aponta para a necessidade de estabelecer responsabilidades em cada setor e reforçar a cooperação.
Segundo Besserman, a chave para todas as decisões que devem ser tomadas é a governança. “O mundo pode fragmentar-se, cair na tentação protecionista, e não conseguir fazer escolhas tão profundas quanto o necessário. Ou pode obter um grau de coesão, pelo qual o governo Obama está ajudando muito nessa direção”, avalia o economista.
Além do refinamento da governança de mercado, os pioneiros em inovação também apontam a necessidade de simplificar os requerimentos regulatórios, promover a mudança de cultura e redirecionar os esforços feitos até agora.
Ainda segundo o estudo da Volans, para seguir no caminho da inovação sustentável a economia precisa de estímulos como a reformulação de pacotes para aliviar a situação de emergência gerada pela crise e a estipulação de metas mais claras no que diz respeito a questões socioambientais.
As contribuições dos empreendedores relacionados no estudo e outros tantos que investem na sustentabilidade, felizmente, estão sendo reconhecidas cada vez mais por governos mundo afora - com seu maior expoente vindo dos Estados Unidos com a presidência de Barack Obama.
Segundo o estudo, Obama e sua administração têm a oportunidade de fomentar o empreendedorismo, provendo a infraestrutura requisitada e construindo parcerias com organizações internacionais comprometidas com metas similares.
As preocupações crescentes sobre a probabilidade de um acordo climático mais efetivo na Conferência de Copenhague (COP-15), no final de 2009, também foram destacadas pelos empreendedores relacionados no estudo Economia Fênix.
A COP-15 é uma grande oportunidade para firmar sérios propósitos e estimular ação, mas pode ser que os sinais das mudanças climáticas ainda levem um certo tempo para serem assimilados. Porém, quando o aquecimento global vier à tona, os governos não terão opção a não ser agir”, avalia Elkington, da Volans.
No caso do Brasil, Besserman constata uma postura heterogênea do governo em relação a sustentabilidade. “No ministério do meio ambiente, esforços positivos têm sido feitos. Porém, ao mesmo tempo, outras áreas do governo atuam como se a sustentabilidade não integrasse suas diretrizes. O assunto continua sendo de apenas um compartimento dentro do governo e não algo já assimilado pelo conjunto das ações e das políticas públicas”, avalia.
O papel dos negócios
A cooperação também é apontada pelo estudo da Volans como uma forma de gerar soluções em escala. Nessa perspectiva, os negócios assumem o papel de liderar o mercado e gerir investimentos pensando em um futuro eficiente, apesar da crise financeira global.
Para Elkington, ainda existem muitas pessoas e indústrias resistentes a mudança e cegas para a realidade emergente. “Minha esperança é que bases úteis estão sendo construídas e, se a administração Obama também fizer sua parte, um novo senso de urgência será construído e acelerará nas próximas décadas”.
De acordo com o estudo da Volans, o primeiro passo para sair da tempestade financeira pela qual o mercado passa atualmente, é avaliá-la de forma clara e extrair boas lições desse período. Segundo o estudo, o lado bom da profunda crise no modelo econômico atual é que “a necessidade será a mãe da reinvenção”. “A crise provavelmente exigirá muitas medidas audaciosas e diferente daquelas com as quais nos habituamos nos últimos 40 anos”, avalia Besserman.
As companhias também terão que adaptar suas estratégias organizacionais a um contexto de considerável incerteza. “Não vamos sair da crise apenas com oscilações positivas de consumo. É preciso que o espírito empreendedor volte a ser despertado, pois as incertezas tendem a inibir a decisão de investir dos empresários”, ressalta.
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