domingo, 30 de agosto de 2009

Afinal, o que vai acontecer?

1 – Alteração nos padrões regionais de chuva। Poderá chover mais e a água evaporar mais rápido, podendo provocar maior seca dos solos em determinadas épocas do ano. Isso pode levar ao aparecimento de novas áreas desérticas, bem como outras se tornarão mais chuvosas.

2 – Outra mudança que também pode ocorrer é a migração de áreas produtivas em direção aos pólos. Isso porque regiões produtoras de grãos tenderão a ficar mais secas, enquanto outras regiões mais geladas podem se tornar terras produtivas por ficarem mais quentes.

3 – Aumento da intensidade de tempestades tropicais, ocasionando chuvas e ventos fortes, podendo aumentar a incidência de furacões. Este é um efeito já constatado e observado. Os Estados Unidos freqüentemente sofrem grandes perdas com a ocorrência de furacões como o Katrina (que devastou a cidade de Nova Orleans em 2005) e mais recentemente, em julho de 2008, com a ocorrência do furacão Dolly, que deixou rastros de destruição entre a fronteira mexicana e americana. Em ocasião inédita na América do Sul, em março de 2004, o furacão Catarina, de intensidade 2 (que em uma categoria de 1 a 6 representa ventos de até 160km/h), atingiu o Sul do Brasil, devastando casas e plantações inteiras. Em novembro de 2008 o estado de Santa Catarina sofreu a pior catástrofe ambiental de sua história, sendo atingido por chuvas que deixaram mais de 30.000 desabrigados e mais de 100 mortos, tendo sido atingidos 49 municípios, sendo mais de 1,5 milhão de pessoas afetadas.

4 – Crescimento e agravamento de problemas de saúde, como por exemplo, asma, rinite e outros. A própria cidade do Rio de Janeiro se viu, nos meses de abril e maio de 2008, atacada pela Dengue Hemorrágica. Ainda mais recente (julho de 2008) é o caso da cidade de São Paulo que registrou mais de 35 dias sem chuvas, baixa umidade relativa do ar (índices chegaram a 22%) e um dos invernos mais quentes já registrados, com temperaturas acima de 33ºC. Também epidemias como dengue e malária ocorrem em decorrência de um desequilíbrio na temperatura global.

5 – Elevação no nível dos mares, por questão do derretimento de geleiras e da dilatação térmica da água do mar. Com isso, ilhas e áreas costeiras ficam ameaçadas, como é o caso de Manhattan nos EUA e a cidade do Rio de Janeiro no Brasil. Segundo cientistas do IPCC, se a emissão de gases de efeito estufa mantiver esse ritmo, poderemos chegar em 2100 com até 90 cm acima dos níveis atuais.

6 - Estudo divulgado em agosto de 2008 pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) avalia o impacto do aumento da temperatura sobre a agricultura no Brasil, prevendo uma queda de 25% na produção agrícola em geral para todos os grãos. Os pesquisadores estimam também que a pecuária será prejudicada, havendo queda na produção de leite e aumento de abortos em vacas. Estes estudos vêm de encontro com outras pesquisas de especialistas internacionais que também apontam as mudanças climáticas como tendo efeito direto na crise mundial de alimentos, já sendo possível observar a influência desses fatores em safras e colheitas, agravando a tendência inflacionária apontada nos principais países do mundo, ocasionada pela menor oferta de alimentos, em função das alterações no clima.

7 – Uma grave conseqüência também das mudanças climáticas é a ruptura da chamada “Teia da Vida”. Muitos estudiosos acreditam que já estamos entrando num processo de extinção em massa tão severo quanto as extinções em massa que ocorreram no passado. A taxa normal de extinção é de aproximadamente 10 a 25 espécies por ano. A taxa atual é provavelmente pelo menos vários milhares de espécies por ano e pode ser dez vezes mais essa estimativa. Um novo clima pode tornar o habitat de algumas espécies inviável, podendo não ser tão simples “fazer as malas” e mudar-se para uma nova região onde o novo clima poderia ser mais favorável. Cerca de 15 a 40% das espécies podem desaparecer com apenas 2ºC de aquecimento global. Como exemplo, temos a alteração das cores dos corais encontrados na região do Parque Marinho de Abrolhos, no litoral do extremo sul da Bahia, bem como em vários outros locais, evidenciando que os mesmos encontram-se doentes.

8 – Além das conseqüências mencionadas acima, podemos citar a diminuição dos manguezais, escassez de água potável e de alimentos, salinização e conseqüente perda de áreas cultiváveis, prejuízos para as economias baseadas na agricultura e no turismo, aumento de vetores de diversas doenças infecto-contagiosas (malária, dengue, etc.), mares mais ácidos, redução de plânctons (base de alimentos dos ecossistemas), desertificação crescente e incêndios florestais, aumento dos custos dos seguros, dentre outras.

O princípio da precaução

É comum surgirem teorias contrárias à hipótese do aquecimento global. O que isso significa? Que não se sabe ao certo o que vai ocorrer? Não. A ciência é feita a partir de longas discussões, que podem durar anos. Em 1992, foi adotada a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC). O objetivo desta convenção (acordo) é estabilizar a concentração de gases de efeito estufa na atmosfera num nível que impeça uma alteração perigosa no clima, de forma que os ecossistemas possam se adaptar naturalmente à mudança climática, assegure a produção de alimentos e permita que o desenvolvimento econômico prossiga de maneira sustentável.

Mas por que estes países adotaram a Convenção se não se tem certeza absoluta de que o clima, tal como conhecemos, pode mudar drasticamente? Isto ocorreu porque os 192 países signatários desta Convenção adotaram o princípio da precaução, segundo o qual a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão para postergar medidas de combate ao agravamento do efeito estufa.Certeza absoluta só se terá no dia em que as previsões realmente acontecerem. Os riscos envolvidos em não tomar nenhuma atitude (inação) para combater esse problema são muito grandes. Envolve o aumento da temperatura, do nível do mar, mas principalmente o bem-estar humano e o respeito aos outros seres vivos habitantes deste planeta.Muitas das controvérsias e informações falsas plantadas na mídia por grupos econômicos poderosos que questionam o aquecimento global perderam força após os relatórios do IPCC de 2007, obrigando mesmo os mais céticos a reverem suas posições sobre o assunto.As informações contraditórias que ainda são observadas em artigos na mídia têm duas fontes principais, a primeira são grupos econômicos que financiam a elaboração e disseminação de artigos e “estudos” que contestam o aquecimento global, por uma razão óbvia: caso a população se conscientize em massa, estes grupos sofrerão ataques da opinião pública e perderão cada vez mais sua condição de poder econômico na sociedade.A segunda fonte de contradições vem da falta de conhecimento aprofundado sobre o assunto.

Reações possíveis às mudanças climáticas

Considerando os riscos envolvidos numa inação (não tomar nenhuma atitude) face ao problema, temos as seguintes reações possíveis para combater a mudança climática:

MITIGAÇÃO – São as ações humanas para reduzir as emissões ou ampliar os sumidouros de gases de efeito estufa. Sendo os sumidouros definidos como qualquer processo, atividade ou mecanismo, incluindo a biomassa11 e, em especial, florestas e oceanos, que tenha a propriedade de remover gás de efeito estufa da atmosfera. O que importa são as reduções líquidas de gases de efeito estufa da atmosfera por atividades humanas, ou seja, o resultado final entre as emissões provocadas pelas ações humanas e as remoções efetuadas pelos sumidouros.

ADAPTAÇÃO – É o conjunto de iniciativas e estratégias que permitem a adaptação, nos sistemas naturais ou criados pelo homem, a um novo ambiente, em resposta à mudança do clima atual ou esperada. São ações com o objetivo de prevenir as conseqüências negativas que a mudança do clima possa causar na natureza e nas populações vulneráveis. Seguindo o princípio da precaução, podem ir de medidas gerenciais (como mecanismos financeiros, administrativos e jurídicos para diminuição de riscos); até alterações no ambiente físico, como melhorar a eficiência de obras de infra-estrutura, como prédios e estradas para resistir a condições ambientais adversas, a construção de barreiras em locais que possam sofrer inundação, como margens de rios e zonas costeiras, desenvolvimento de espécies de cultivo resistentes à seca, etc. Os países pobres devem prestar atenção especial para este item, por não terem a mesma infra-estrutura e capacidade de lidar com os problemas do que os países desenvolvidos.
A sociedade e os governos devem promover a produção de informação científica de apoio, políticas públicas, leis, regulamentos, incentivos econômicos, educação ambiental, soluções tecnológicas, conscientização pública e mobilização da sociedade, no sentido de viabilizar e motivar as ações demitigação e adaptação à mudança do clima।

11 Biomassa - Quantidade total de matéria orgânica de um determinado ecossistema.

Emissões e desenvolvimento
A maior parte das emissões de gases de efeito estufa ao longo da história provém, indiscutivelmente, dos países industrializados, as quais se iniciaram muitas décadas antes das emissões dos países em desenvolvimento. Estes países representam 20% da população mundial, respondem por 57% do PIB (Produto Interno Bruto) e emitiram 46% do total mundial de gases de efeito estufa em 2004.
Seguindo o mesmo modelo que os países desenvolvidos, os países em desenvolvimento emitem níveis menores de gases de efeito estufa, mas com crescimento muito mais acelerado. Nos últimos 15 anos, enquanto os países desenvolvidos aumentaram em 20% as suas emissões, o Brasil aumentou 68% e a Ásia 104%. A China (país em desenvolvimento, assim como o Brasil), em 2008, já passou a ser o maior emissor global de gases de efeito estufa, seguido dos Estados Unidos. As maiores taxas de crescimento das emissões globais são observadas no setor de energia e transportes.Alguns países e iniciativas já tentam inverter esse princípio, de que o desenvolvimento se constrói com alto consumo de energia e emissões de carbono.

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