domingo, 13 de setembro de 2009

A vida é uma interação

Todos os ecossistemas têm uma história construída ao longo da história da Terra. Uma fina rede de relações se estabeleceu e evoluiu durante milhares de anos, com expansões e retrações que responderam aos fenômenos que acompanharam a formação do planeta.
Com o passar dos estágios, estabeleceram-se dependências e interdependências. Estas relações determinam a manutenção de serviços ambientais como a água, a qualidade do ar e os regimes de chuvas, por exemplo. Determinam também diferentes tipos de ambiente para a vida humana, com toda a sua diversidade de interpretação do universo e do cotidiano. A eliminação de espécies altera profundamente esta rede de relações, com consequências muitas vezes imprevisíveis.
A diversidade de formas de vida na Terra é resultado - e em grande parte, a causa - das características do planeta: a atmosfera não teria oxigênio caso não existissem seres vivos capazes de produzi-lo e o atual regime de ventos depende diretamente de existência de áreas de florestas, do relevo e das correntes oceânicas, por exemplo. Nas teias de ecossistemas mais intrincados, todas as espécies modificam o ambiente e são modificadas por ele.
Biodiversidade significa a diversidade que existe entre os organismos vivos nos ecossistemas terrestres, marinhos e outros ambientes aquáticos e os complexos ecológicos dos quais fazem parte. Isto inclui a diversidade dentro de cada espécie, entre espécies diferentes e a diversidade dos ecossistemas. Além de sua importância para garantir serviços ambientais, a biodiversidade tem um valor intrínseco independente de qualquer necessidade humana.
Como fonte de serviços ambientais, o papel da biodiversidade pode ser resumido em:
·  função de suporte - incluindo o de base dos ecossistemas por meio da diversidade de estruturas, composições e funções;

·  função reguladora - pela influência da biodiversidade na produção, estabilidade e resiliência dos ecossistemas;

·  papel cultural - relacionado aos benefícios não materiais como os elementos estéticos, espirituais e de lazer proporcionados pela biodiversidade;

·  papel de provedora - relacionado direta e indiretamente a provisão de alimento, água potável, fibras e muitas outras coisas

As modificações nos ecossistemas levam inevitavelmente a uma transformação da diversidade de vida no planeta. Veja como:
·  sem o suporte da cobertura vegetal, que propicia inúmeras formas de vida, abrigo e alimento, todos os seres que nela habitavam ficam ameaçados;
·  mesmo que encontrem abrigo e alimento em locais próximos, podem ter seu fluxo gênico e de variabilidade interrompidos;
·  isso significa, ao longo dos anos, uma maior homogeneidade entre os indivíduos e, consequentemente, uma maior vulnerabilidade: os ecossistemas homogêneos são mais sensíveis a perturbações como introdução de um agente causador de doença ou de uma mudança no regime de chuvas.
Imagine uma cultura extensa, homogênea, formada por indivíduos susceptíveis ao ataque de um determinado vírus. O surgimento deste vírus pode exterminar com todos os indivíduos ao mesmo tempo. Deste modo, a biodiversidade funciona também como um escudo, pois mantém diferentes estratégias de sobrevivência e permite conferir uma certa estabilidade ao ambiente. Sem ela, serviços ambientais como disponibilidade de água e alimento ficam muito ameaçados.
Os pássaros, os insetos e o fluxo das águas têm uma relação que pode não ser óbvia para um observador distante. Mas olhando mais de perto, notamos que os pássaros e os insetos, por exemplo, têm hoje um papel fundamental nos sistemas naturais como dispersores de sementes; a manutenção dos solos depende de fungos, bactérias e invertebrados que nele vivem. Por sua vez, é este mesmo solo que dá suporte as matas e mantém-se poroso para a penetração das águas, que nutrem os rios e lagos.
O desmatamento e o uso excessivo de agroquímicos têm contribuído para o declínio de agentes polinizadores e seu déficit nos ecossistemas resulta em perdas de produtividade e de qualidade na agricultura. No longo prazo, isso pode resultar em uma crise também na produção de alimentos, já que cerca de três quartos das plantas agrícolas dependem de polinizadores.
Mas o que um habitante urbano tem a ver com isso? Tudo, pois isto também os afeta: a concentração em cidades não eliminou sua convivência com outros seres vivos, pelo contrário - favoreceu extraordinariamente algumas populações de insetos, mamíferos e aves, como os ratos - que seriam facilmente predados por corujas, por exemplo -, as baratas, as formigas, os fungos em geral, as bactérias causadoras de doenças e tantos outros organismos que ocorrem em grandes quantidades e causam horror aos habitantes.
Só nas cidades, com fartura de abrigo, abundância de alimento e sem seus inimigos naturais, estas espécies tiveram condições tão favoráveis. Reinam absolutas - e haja inseticida, dedetização, desratização, desinfetante... Infelizmente, São Paulo é uma cidade que atende a centenas de crianças mordidas por ratos todos os dias. Não são menos frequentes os acidentes com cobras, com escorpiões etc.
 Os Oceanos, economia e população.
Há uma previsão de que se a exploração predatória de peixes continuar nas taxas atuais, todas as espécies marinhas hoje comercializadas não estarão mais disponíveis em 2050.
No Brasil, a faixa litorânea abriga 25% da população; a indústria da pesca emprega 800 mil pessoas, responsáveis pelo sustento de cerca de quatro milhões de habitantes. Estima-se que 80% da produção pesqueira no Brasil esteja ameaçada.
A forma mais adequada de proteger o estoque de peixes é a manutenção de áreas de proteção, nas quais as espécies possam reproduzir-se e adquirir peso, tamanho e idade adequados à manutenção sustentável da atividade pesqueira. Recomenda-se que 20% dos oceanos sejam destinados à preservação; no Brasil, no entanto, somadas as áreas de proteção federais e estaduais, menos de 1% encontra-se nesta condição.
Os corais, já afetados em diversas partes do mundo, são o berçário, a fonte de alimento e o abrigo de inúmeras espécies de peixes; servem também como suporte a inúmeras quantidades de algas e organismos microscópicos. Quando alterados, põem em perigo todas essas espécies e, como consequência, diminuem a quantidade de peixes disponíveis, afetando não só a alimentação, mas a ocupação de milhares de pessoas em todo o mundo.
Florestas, sistemas complexos.
Florestas são sistemas complexos que se constituíram enquanto tal ao longo de milhares de anos: as espécies que as compõem estabeleceram, durante o processo de instalação do ecossistema, relações de cooperação, competição, co-evolução, simbiose e predação. A composição e os fluxos de matéria e energia das florestas resultam da interação de todos os seres vivos, entre si e destes com o clima, com o solo, com os minérios e com a água ao longo do seu processo de amadurecimento; são essas interações complexas que conferem um equilíbrio dinâmico ao ecossistema.
A exploração direta dos recursos, aliada à pressão por maior quantidade de terras para cultivo, levaram a um desflorestamento.
De acordo com o relatório do IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), as atividades relacionadas com as florestas podem reduzir de forma considerável as emissões por fontes e aumentar as remoções de CO2 com custos baixos, podendo ser planejadas para combinar a adaptação às mudanças climáticas ao desenvolvimento sustentável. Estima-se que cerca de 65% do potencial total de mitigação está localizado nos trópicos e que cerca de 50% do total poderia ser alcançado reduzindo-se as emissões do desflorestamento.
As atividades florestais sustentáveis podem combinar geração de emprego e renda, benefícios para a biodiversidade e conservação das bacias hidrográficas, bem como a oferta de energia renovável e a redução da pobreza - enfim, todos os aspectos fundamentais para a adaptação às mudanças previstas no clima, que devem afetar a disponibilidade de água e alimentos, com consequências graves para a qualidade de vida das populações rurais e urbanas.
A expansão inicial da soja e, posteriormente, da pecuária em terras do cerrado e da Amazônia tem preocupado os observadores do clima: os desmatamentos precedidos de queimadas fazem com que o Brasil ocupe posição de destaque entre os países que mais emitem CO2 no mundo. Além disso, com a redução das florestas os solos, ficam expostos, apresentando maior risco de degradação; consequentemente, os reservatórios de água tornam-se mais susceptíveis à contaminação.
A redução das florestas no mundo todo traz como resultado o risco de extinção de inúmeras espécies; outras, desalojadas, podem buscar abrigo nas cidades, com consequências imprevisíveis: no Pará, em 2007, registrou-se um grave surto de raiva transmitida por morcegos recém-desalojados de seu habitat natural por causa do desmatamento.
Preservar a composição das florestas e suas interações é um dos desafios da sustentabilidade. A reconstituição de florestas, além de custosa, tende a ser imperfeita, pois dificilmente se consegue mimetizar as condições naturais que determinaram seus componentes e os serviços ambientais que são capazes de oferecer. Por isso, reflorestamentos podem ser positivos, mas o mais importante é conservarmos as florestas e outros biomas vivos - hoje é possível falar sobre florestas mortas - ou florestas vazias7 -, decorrentes da caça predatória de espécies; nelas, faltam as conexões que determinam sua manutenção.
Em algumas situações, a cobertura vegetal intacta não significa que a área esteja preservada: a caça indiscriminada de animais da floresta - macacos, onças, aves de todas as espécies -, o envenenamento de insetos e aves pelo uso inadequado de agroquímicos ou ainda a destruição de habitats naturais provocada por atividades extrativistas leva ao esvaziamento das matas. Mesmo que a cobertura vegetal resista por alguns anos, sua capacidade de auto-regulação e manutenção ficam seriamente comprometidas.
A ameaça à cobertura vegetal aparentemente preservada decorre do rompimento dos ciclos naturais de matéria e de energia, bem como da ausência de funções essenciais para a manutenção do ecossistema, como os de polinização e transporte de sementes, entre outro; além disso, ocorre também a uma drástica diminuição na quantidade de matéria orgânica disponível para decomposição no solo. Assim, com o tempo, essas florestas "mortas-vivas" tendem a entrar em declínio. 

do curso  www.bancoreal.com/sustentabilidade

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